O mundo empresarial de Donald Trump é marcado por vários empreendimentos icônicos. O empresário investe no ramo de imóveis como hotéis de luxo até cassinos, a marcas de roupas com seu nome até reality shows.
Porém, uma de suas iniciativas mais fascinantes foi a entrada na indústria da aviação comercial nos anos Estados Unidos. Foi em1980 em uma iniciativa extremamente ousada e de muito otimismo, que Donald Trump, inaugurou sua companhia aérea.
A aviação comercial é um mercado extremamente conhecido por sua alta competitividade, complexidade de operar e margens extremamente apertadas. Em 1989, Donald Trump lançou sua própria companhia aérea, a Trump Shuttle.
A empresa aérea do magnata tinha prometido uma experiência única de luxo e de muita exclusividade para os passageiros nos Estados Unidos.
No entanto, a aventura durou pouco pois em meio a dificuldades financeiras e operacionais, o empresário se desfez do negócio apenas alguns anos depois. Certamente isso levou a questionamentos de o que ocorreu para que um empresário bem sucedido se desfizesse de sua companhia aérea.
A Aviação Comercial e seus desafios
A aviação comercial é um dos mercados mais desafiadores do mundo, conhecido por sua alta competitividade, complexidade operacional e margens de lucro extremamente reduzidas. Operar um negócio desses não é tão fácil quanto parece.
Segundo dados da IATA, as margens de lucro médio das companhias aéreas ao redor do globo estavam em torno de 5,5%.
Essa margem baixa é impactada por uma série de fatores que compõem o custo operacional das companhias aéreas. Entre os principais estão o preço do combustível, taxas aeroportuárias, manutenção das aeronaves, salários das tripulações e pessoal de terra, treinamento, e outros.
O preço do combustível é um dos principais desafios. Em 2018, os custos de combustível representavam na média cerca de 23,5% dos custos operacionais de uma companhia aérea. Essa linha de custo é extremamente variável, fugindo totalmente do controle de qualquer gestor de companhia aérea.
O que faz com que as empresas aéreas muitas vezes se vejam obrigadas a aumentar as tarifas e cortar gastos em outras áreas para manter as operações lucrativas ou dentro de um patamar aceitável e sustentável para operação.
A título de comparação para a realidade das companhias aéreas brasileiras, hoje os custos com combustível para abastecer as aeronaves comerciais estão em 39% para as companhias aéreas brasileiras, são números extremamente altos fora os outros custos envolvidos para operação de uma companhia aérea.
Concorrência
Além do que falamos anteriormente, o setor aéreo sofre com a competição constante de companhias aéreas com modelos Low Cost Low Fare e também das companhias aéreas Ultra Low Cost, que operam com modelos de negócios enxutos e frequentemente competem diretamente com as companhias tradicionais.
Um exemplo claro da alta competitividade é a disputa entre as low-cost, como a Ryanair e a Southwest Airlines, que conseguiram oferecer passagens a preços significativamente mais baixos ao reduzir ao máximo serviços adicionais, como refeições e também otimizar as rotas e a operação com aeronaves de modelo único. A Ryanair, por exemplo, reduziu custos ao focar em aeroportos secundários, com taxas mais baixas, e ao vender bilhetes sem incluir serviços extras como alimentação e bagagem despachada. Esse modelo pressiona companhias tradicionais a reverem suas operações para reduzir custos e permanecerem competitivas, mesmo com margens já apertadas.
Operar um modelo único de aeronave reduz muito os custos de uma companhia aérea pois o treinamento da tripulação, mecânicos de aeronaves, material de apoio, peças de reposição é um só, e operar vários modelos representa uma complexidade tremenda para um negócio que já é complexo.
Em meio a esses desafios, as companhias aéreas também precisam lidar com a flutuação na demanda e com crises inesperadas, como a pandemia de COVID-19, que afetou drasticamente a aviação em 2020 e 2021. Naquele período, as empresas perderam bilhões em receitas, e muitas precisaram de apoio financeiro do governo para evitar a falência.
Uma oportunidade e o nascimento da Trump Airlines
A Trump Airlines, que na verdade tinha o nome de Trump Shuttle surgiu a partir da aquisição da companhia aérea Eastern Air Shuttle, uma divisão da Eastern Airlines que oferecia voos frequentes entre Nova York, Washington D.C. e Boston. É como se fosse uma ponte aérea Rio – São Paulo, que são os voos entre o aeroporto Santos Dumont e Congonhas.
Em 1988, a Eastern Airlines estava enfrentando problemas financeiros, e seu CEO, Frank Lorenzo, decidiu vender a divisão de rotas curtas para levantar fundos trazendo assim liquidez para a companhia.
O visionário empresário Donald Trump viu nisso uma oportunidade para entrar no setor de aviação, acreditando que poderia transformar os voos de curta distância em uma experiência de luxo, associando novamente seu nome a algo Premium e 5 estrelas.
Por cerca de $365 milhões financiados por um empréstimo do Citibank, Trump adquiriu 17 aviões Boeing 727 e o direito de operar as rotas estabelecidas da Eastern Air Shuttle, nasce então a Trumo Shuttle.
A Trump Shuttle e seu conceito de Luxo
Com o objetivo de oferecer um serviço diferenciado, Trump introduziu diversas melhorias na experiência de voo. A promessa era de transformar o transporte aéreo comum em uma experiência premium e única na aviação comercial americana, era como se fosse uma experiencia de ter e voar no próprio jato executivo. A companhia adquirida pelo empresário passou por um Rebranding e foi totalmente remodelada, passando a se chamar Trump Shuttle.
Operando Boeing 727 a empresa foi totalmente remodelada para apresentar assentos de couro, interiores renovados, além de servir refeições de alta qualidade para seus passageiros, uma novidade para o curto tempo de voo entre as rotas que a companhia operava.
Para reforçar ainda mais o aspecto luxuoso, Donald Trump apostou em sua já conhecida estratégia de branding. A logo “Trump” foi estampada nas fuselagens dos aviões, que foram repintados com detalhes dourados para exibir o padrão de opulência associado à marca Trump. Esse visual atrativo e o marketing agressivo prometiam elevar o padrão das viagens de negócios e a lazer, representando o conceito de luxo da Trump Shuttle.
A realidade financeira, no money no funny!
Apesar das promessas de luxo e da grande publicidade envolvente, a Trump Shuttle rapidamente encontrou sérios problemas financeiros. Ao contrário do mercado imobiliário, onde Trump já era experiente, o setor aéreo apresentava desafios extremamente únicos e mais complexos que o setor imobiliário.
O alto custo operacional da aviação, aliado ao fato de que as rotas eram de curta distância e de alta frequência, significava que a rentabilidade seria difícil de alcançar. Além disso, a empresa assumiu o controle dos aviões e da infraestrutura em um período de recessão econômica nos EUA, o que afetou a demanda por voos premium.
Lembre-se que a aviação é totalmente relacionada a economia, logo recessões ou crises representam períodos de baixa demanda e baixo fluxo de passageiros para a aviação comercial.
Outro fator que dificultou a sobrevivência da Trump Shuttle foi o modelo de financiamento. Para viabilizar a operação da companhia aérea, Donald Trump adquiriu um empréstimo de $365 milhões, que inicialmente viabilizou a aquisição, se mostrando posteriormente um fardo significativo. Os altos juros e a necessidade de gerar receita rapidamente colocaram uma pressão intensa sobre a empresa, que já estava operando com margens extremamente reduzidas.
Problemas Operacionais e a Competitividade
Além dos desafios financeiros, a Trump Shuttle enfrentou problemas operacionais que minaram sua competitividade. Embora o conceito de luxo fosse um diferencial, ele também implicava em custos operacionais elevados. Muitos passageiros das rotas domésticas não estavam dispostos a pagar mais por esses serviços, já que o voo durava cerca de uma hora.
Companhias rivais como a Pan Am Shuttle e a Delta Shuttle ofereciam opções semelhantes, mas com menos foco em luxo e mais em preços acessíveis e frequência de voos.
Para agravar a situação, a aviação comercial americana estava sofrendo muito com o aumento nos preços dos combustíveis e uma inflação crescente. O que fez com que as despesas da Trump Shuttle aumentassem ainda mais, em resposta, Trump tentou implementar cortes de custos, mas isso acabou prejudicando a proposta inicial de oferecer uma experiência de voo diferenciada.
A Venda da Trump Shuttle
Diante desses desafios, a Trump Shuttle começou a perder fôlego. Em 1990, pouco mais de um ano após sua fundação, a empresa já enfrentava dificuldades para pagar os juros do empréstimo. Donald Trump tentou renegociar sua dívida com o Citibank, mas as condições econômicas adversas tornaram a situação insustentável. Em 1992, Trump decidiu entregar a operação para o banco, que posteriormente a vendeu para a USAir.
A marca Trump foi removida, e a empresa passou a operar como uma subsidiária da USAir Shuttle até finalmente ser incorporada totalmente pela US Airways.
Lições da aérea de Donald Trump
Embora a Trump Shuttle tenha sido uma empreitada de curta duração, ela deixou lições valiosas para o setor de aviação e para o próprio Trump.
A empresa durou 3 anos e primeiramente, mostrou que o modelo de luxo nem sempre se traduz em sucesso em companhias aéreas.
E esse modelo aplicado em rotas de curta distância e em um mercado de passageiros sensíveis ao preço é pior ainda.
Além disso, operar em um setor com altos custos operacionais e margens reduzidas requer 4 táticas fundamentais :
1) Estudo de mercado elaborado;
2) Planejamento financeiro sólido;
3) Know how e conhecimento de mercado;
4) Timing
Para Trump, o fim da Trump Shuttle foi um golpe para sua marca, mas também serviu como um aprendizado. Ao longo dos anos, ele voltou a aplicar sua estratégia de marca em outras áreas, mas nunca mais tentou investir diretamente em companhias aéreas.
Seus investimentos no setor aérea são exclusivamente suas aeronaves e helicópteros particulares.
Contexto Histórico da Aviação durante a Trump Shuttle
Historicamente, a Trump Shuttle representa um período interessante da indústria da aviação nos Estados Unidos. Nos anos 1980 e 1990, o setor aéreo era caracterizado por rápidas mudanças e experimentações com modelos de negócio. A Trump Shuttle foi lembrada como uma das últimas tentativas de transformar voos regionais em uma experiência de luxo.
Aquele momento é lembrado por onde a maioria das companhias começava a focar em cortes de custos visando eficiência operacional para sobreviver.
Conclusão
Em suma, a Trump Shuttle foi um empreendimento ousado que buscava redefinir o conceito de transporte aéreo de curta distância. Contudo, devido a um ambiente econômico desfavorável, altos custos operacionais e desafios financeiros, a empresa foi incapaz de se sustentar.
Embora tenha sido uma tentativa curta e cheia de obstáculos, a Trump Shuttle permanece como um capítulo interessante na história de Donald Trump. Certamente o mega empresário colheu lições valiosas sobre o negócio do setor aéreo.
O que você teria feito de diferente se você fosse o dono dessa companhia aérea ?